U2BR entrevista: Gabriel Chaim
U2BR entrevista: Gabriel Chaim
20 de setembro de 2015
U2BR entrevista: Gabriel Chaim
Rômulo
Editor-chefe do U2 Brasil

O U2BR traz uma entrevista imperdível com o fotógrafo brasileiro Gabriel Chaim, que teve as suas imagens utilizadas pelo U2 para ilustrar a dolorosa situação da Síria. As imagens foram feitas por Gabriel na devastada e desastrosa paisagem da cidade de Kobani. Ele nos fala sobre como é ter um cotidiano onde convive com a tensão constante de sentir sua vida ameaçada, mas principalmente de lidar com o medo dentro da vida das outras pessoas, sobre os momentos mais tensos durante sua cobertura da Guerra na Síria (onde inclusive foi detido pelo governo), como surgiu o contato com o U2, seus sentimentos e esperanças. Vale a pena ler!

Aos 34 anos, Gabriel Chaim  traçou seu destino não usando uma estrada muito suave e bem asfaltada. Nascido no oeste do estado do Pará, na cidade de Oriximiná, Chaim estudou gastronomia em São Paulo, depois partiu para Firenzi, na Itália, onde abraçou os estudos de fotografia. Feito isso, acabou por parar em Dubai, nos Emirados Árabes, local no qual trabalhou por mais de um ano com o intuito de arrecadar fundos e financiar o seu projeto Kitchen4life, através do qual documenta o cotidiano dos refugiados, visando assim fazer alguma diferença em suas vidas.

Filho de libaneses, Gabriel acabou assim se tornando especializado em registrar áreas de conflito e crise, percorreu campos de refugiados na Jordânia e Irã, esteve presente também no Egito, na região da Faixa de Gaza, além do Iraque. Mas seu encontro mais forte e emblemático foi quando o seu destino foi atraído para a Síria, onde a guerra civil já matou nos últimos 4 anos mais de 240 mil pessoas. Em maio deste ano, o fotógrafo esteve em Kobani, cidade na qual antes mais de 250 mil habitantes e agora menos de 50 mil apenas sobrevivem. Foi detido com mais dois outros fotógrafos, um alemão e um turco, ao sair em direção à cidade de Sanliurfa, na fronteira com a Turquia. Acabou por ser deportado dias depois.

Seus trabalhos já foram veiculados no G1 e nos programas da Globo "Profissão Repórter" e "Fantástico", além da rede americana CNN e o jornal inglês "The Guardian".

A seguir você confere nossa entrevista com Gabriel:

A sua origem é libanesa, seus avós vieram do Líbano, você acredita que essas suas raízes de alguma forma influenciaram o seu trabalho? A sua história de vida, de alguma maneira se converte com os refugiados, afinal é natural do estado do Pará, porém se formou em gastronomia em São Paulo e depois seguiu para a Europa e Emirados Árabes.

Sim, meus avós vieram de lá. Na verdade, muitos me perguntam isso, e tudo levar a crer que sim, porém não; a minha busca não é pela causa dos refugiados sírios somente, e sim, de uma forma em geral. Tenho focado meu trabalho nesse conflito da Síria, porém espero que tudo termine logo, ficando pronto para um novo conflito, em outro lugar. O meu foco são as pessoas que vivem e sobrevivem em meio aos escombros.

Seu trabalho está bem marcado pelas imagens da Síria, mas já passou por diversos outros locais, qual deles te marcou mais?

Sem dúvida os conflitos na Síria marcam muito, pois a tragédia tem proporções inimagináveis. É um dos maiores conflitos desde a 2ª Guerra Mundial.

Quais os momentos mais tensos que você vivenciou no período da cobertura da guerra na Síria?

Foram tantos, que ficaria difícil citar um. Porém, em abril deste ano, estava em Kobani, na Síria, e lá acompanhei um desarmador de bombas. No momento em que ele estava desativando um carro carregado de explosivos, o gatilho pegou fogo, foi muito tenso. Mas, felizmente, a bomba não explodiu. Esse desarmador morreu meses depois, tentando desarmar uma outra.

Há sobreviventes que tomam os escombros por herança, enquanto outros persistem em lutar para reconstruir sua terra ou tentam refugiar-se em um novo lar, isto quando a morte não os toma de assalto. Quais as opções reais de existência e em que medida a fé ainda os fazem cultivar esperanças?

Eles não escolhem morar ali, eles são obrigados a estar ali. Não conseguem fugir, não tem dinheiro, não tem passaporte. A única alternativa é ficar, e esperar a hora da morte.

O que suas viagens a países destroçados pela guerra lhe inspiram sobre o futuro? Do que você mais tem medo?

Tenho medo de um dia as pessoas não se importarem mais com os problemas das outras. Meu trabalho seria em vão. Mas, enquanto tiver esperança, vou continuar seguindo em frente.

Você consegue ver alguma solução a curto prazo tanto para os conflitos quanto para a situação dos refugiados?

Não! Infelizmente, a situação ainda vai piorar. Porém, é importante esse momento que o mundo voltou os olhos para crise humana, e não mais para a guerra de fato. Isso faz com que pessoas tomem atitudes solidárias. Pois ser um refugiado é algo que pode acontecer a qualquer um.

E como o U2 chegou até você? Qual foi a abordagem da banda? Como foi explicado o conceito e o contexto no qual as suas imagens seriam usadas?

Fiz uma reportagem com meu drone para a CNN. O Bono viu, gostou e a produção dele me contatou interessada em comprar essas imagens para passar na turnê. Não falei com ele, somente com assessores pessoais. Eles me disseram que ele escolheu de minuto a minuto as imagens que seriam exibidas na turnê. Eu vendi 7 minutos de imagens.

Você é fã da banda? Conhece o trabalho? Sabe do relacionamento dela com outros fotógrafos, jornalistas ou artistas?

Escutava muito U2 quando era mais novo - aliás, quem não escutava?! – Mas fazia tempo que não acompanhava as novidades. Depois dessa atitude que eles tomaram, em dar voz a essas pessoas que vivem em áreas de conflitos, e principalmente por tentar mostrar o real motivo que as levam a deixar o seu território desesperadamente, vou com certeza me concentrar mais sobre a banda.

Gabriel embarca semana que vem para o Iraque e depois para a Síria, para preparar um programa de TV sobre essas zonas de conflito. Gostaríamos de agradecê-lo pela oportunidade de realizar esta entrevista e de conhecer melhor o seu bonito trabalho. Clicando aqui você pode conferi-lo.

A Globo News transmitiu seu documentário "Kobani Vive", o qual pode ser visto AQUI.

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