Especial The Joshua Tree: A batalha do século
Especial The Joshua Tree: A batalha do século
06 de maio de 2017
Especial The Joshua Tree: A batalha do século
Vicky
Editora do U2 Brasil

Reza a lenda que uma mãe é incapaz de escolher o seu filho favorito... E para uma banda seria possível escolher seu álbum ou sua música favorita? E quando pelo menos dois dos seus álbuns estão listados entre os mais relevantes da história da música nos últimos 30 anos?

The Joshua Tree, a joia da coroa que comemora seus 30 anos com pompa e circunstância, lançado em 1987, produzido por Daniel Lanois e Brian Eno, primeira posição em 9 países diferentes, ganhador do Grammy de Álbum do Ano, posição número 27 na lista da Rolling Stone de melhores álbuns da história, também listado pela mesma revista como o terceiro melhor dos anos 80, berço de três hinos, mais de 25 milhões de cópias vendidas.

Achtung Baby, Berlim, 1991, Brian Eno, Daniel Lanois, 63 na mesma lista da Rolling Stone dos melhores da história, o quarto mais relevante dos anos 90. Primeiro lugar em 4 países, 10 milhões de cópias vendidas no ano do seu lançamento. Responsável pela inovadora Zoo TV, pai e mãe de Mr. Macphisto e The Fly. One, Even Better Than The Real Thing, Mysterious Ways.

Qual dos dois álbuns pode ser considerado mais relevante, o melhor?

Bem, tudo dependo do momento do ângulo e do ponto de vista.

The Joshua Tree é mais importante para a banda. Achtung Baby para a Música.

Em 1986 quando o U2 começou a trabalhar no seu quinto álbum de estúdio eles já eram uma banda relativamente conhecida, mas ainda estava longe do status de “super banda” que alcançariam, e que não teria alcançado sem  o lançamento de The Joshua Tree certamente. A estrada traçada pela  banda até ali se mostrava interessante, mas não apontaria necessariamente para o fim que se mostraria. Nos últimos 6 anos eles haviam mostrado a confusão e reviravolta do final da adolescência em meio a medos, percas e incertezas em Boy, a espiritualidade e o tom até certo ponto messiânico em October, War levou a banda ao primeiro lugar no Reino Unido além de ser abertamente o primeiro álbum a marcar a sua veia política e impulsionar as performances energéticas e fores no palco e colocar Bono como dono de uma das mais fortes vozes e carismas dos palcos dos anos 80, já The Unforgetable Fire além de trazer a primeira união U2, Eno e Lanois mostrava o primeiro flerte da banda com as raízes da cultura norte-americana; apesar de ser gravado dentro das tradicionais e “ultra-irlandesas” paredes do Slane CastleU2 Eno 1985 o álbum trazia duas músicas em homenagem a Martin Luther King, líder do movimento pelos direitos dos negros nos Estados Unidos. Além disso o U2 já havia lançado dois álbuns ao vivo que também confirmavam o namoro dos irlandeses com a América: Under a Blood Red Sky, que apesar de também ter gravações feitas pela banda na Alemanha tem a sua imagem, tem a sua imagem clássica determinada pelo seu vídeo-concerto gravado no Colorado, o EP Wide Awake in America de 1985, com gravações feitas na Inglaterra, jogava luz em uma versão de A Short of Homecoming, produzida por Tony Visconti que contemplava o distanciamento dos irlandeses de sua casa, um saudosismo poético que ajudava o U2 a seguir em frente rumo ao novo caminho que a banda traçaria.

Em resumo os trabalhos anteriores são peças de um grande quebra-cabeças que acabou por culminar em The Joshua Tree. Como os imigrantes irlandeses que há séculos saiam das terras da Ilha Esmeralda para fazer uma nova vida, era a vez de o u2 fazer isso. The Joshua Tree é um disco de paisagens abertas, de sonhos, de aspirações de memórias. Uma paisagem árida do deserto e quatro jovens adultos beirando os 30 anos procurando entender a que ponto sua vida e seus destinos chegarem. Insegurança, medo ou fascínio faz com que o álbum seja um trabalho de fora para dentro. Apesar de possuir letras que soem extremamente pessoais como With or Without, Joshua é sem dúvida um álbum no qual o seu narrador observa pela janela. Bono puxa essa excursão pela América através da bagagem do adolescente de Dublin fascinado por Beatles, John Lennon e Bob Dylan, mas também pelo adulto que havia se fascinado pelas questões políticas e sociais do mundo. Esses sentimentos brigam dentro dele que ao mesmo tempo fascinado pela sensação da liberdade que aquela Terra vende, assiste ao tumultuoso movimento político – aliás esse seria um dos motivos para o trabalho ser revisitado agora em 2017 – e a relação de dominação que os Estados Unidos exercia em um cenário dominado pela tensão da Guerra Fria e conflitos locais motivados pela dicotomia dos modelos existentes. A reverência a música americana e aos seus ícones está lá, mas a sonoridade do álbum não pode ser mais inspirada pelo deserto: simples, seca, “gritante”, são músicas que não nasceram para serem confinadas em uma sala, mas para os espaços abertos, para estádios, são hinos que ecoam uma ideia que apesar de vir da ideia original de The Two Americas, nome sugerido pelo álbum ultrapassa barreiras, chega a El Salvador, chega a África, chega a América Latina.

 

U2br_joshua_03Anton Corbjin fantasticamente capturou essas imagens ao colocar a banda em preto e branco na capa do disco posteriormente. A musicalidade, no entanto, é simples, temos os 4 integrantes da banda levando os seus talentos a um novo limite, mas sem auxílio de uma grande inovação tecnológica, algo inovador, é talento trabalhado e lapidado a exaustão. São os irlandeses fincando a suas raízes na América, através de linhas de baixo fantásticas, guitarras infinitas, bateria marcada e a voz de um narrador apaixonado. Brian Eno, Daniel Lanois, Flood e Steve Lillywhite foram os responsáveis por lapidar cada pedra preciosa que a banda deu a eles e fizeram isso com uma singularidade que tornaram Joshua Tree o que é.

“O som de quatro caras derrubando ‘The Joshua Tree’”, bem-vindos aos anos 90, bem-vindos a um mundo que não era nada parecido com aquele no qual o U2 fazia a América. Bem-vindos a uma banda que nem de longe lembrava aquela que havia trabalhado nas grandes paisagens americanas. Os 4 rapazes da Irlanda haviam chegado onde nenhum outro artista do seu país havia feito e estavam pagando um alto preço por isso. Eram olhados com desconfiança pelos fãs e pela crítica, pareciam a ponto de transbordar. Para onde ir? Onde estavam? Quem eram afinal no mundo da música?

Brian Eno nos anos 70 havia feito de Berlim o refúgio para um outro artista que buscava reencontrar o seu caminho: David Bowie. Caído na Terra dos céus como seu Ziggy Stardust, encarnando o Magro Duque Branco... Com problemas financeiros, com um casamento em ruínas e viciado em drogas, David reencontrou a sua genialidade e mudou o caminho da música ao se trancar nas paredes do majestoso Hansa Studio na capital alemã. O Muro, as duas realidades, a sombra da Segunda Guerra Mundial, o anonimato a companhia de Iggy Pop, e o auxílio de Eno, seus sintetizadores, o modo de composição único produziram os geniais Low e Heroes, discos que mudaram o mundo, a música, David e em certo ponto a História.22

Em uma encruzilhada tão grande quanto essa encarada por David nos anos 80, depois de fracassadas iniciativas de criar um novo trabalho, o U2 também desembarcou em Berlim ao lado de Daniel Lanois, pupilo de Eno que se juntaria posteriormente a banda, assim como Lilliwhite. A cidade que mais do que nunca se mostrava como o resumo daquele mundo desenhado em 1990. A banda desembarcou na cidade exatamente em 03 de outubro de 1990, horas depois da oficialização do processo de unificação alemã que se iniciara um ano antes, por 40 anos a capital alemã fora dividida em dois, uma nova era chegava aquele lugar, e o U2 procurava assim uma nova era para si. A música também mudava com o surgimento de uma nova sonoridade vinda do mundo do rock, que deixava de viver em uma bolha e mais claramente flertava com a música eletrônica e novos experimentos que estavam chegando. O som do rock industrial de Nine Inch Nails que havia começado a sua carreira na final dos anos 80 influência a mudança de ritmo, algumas mudanças no tempo das músicas com pitadas de hip-hop, The Edge fascinava-se por essa nova sonoridade, enquanto Larry buscava voltar as raízes de grandes nomes como Cream. 1991-Hansa_Studios-1Mas psicologicamente a banda não estava em um momento bom, então enquanto a sonoridade de Achtung Baby se mostra grandiosa, para fora, talvez as letras do álbum sejam as mais pessoais escritas pela banda, como se fossem algo definidamente mais profundos escondido por uma grande couraça musical. Edge encarava um divórcio, Bono encarava o medo de ser um popstar, Adam encarava problemas com drogas e álcool, Larry temia a sua própria relevância, além da própria banda. Barreiras foram construídas entre os quatro e dentro delas nasceram músicas como The Fly ou Acrobat, que expõem a alma e a fragilidade de ser um artista se colocando diante de todos, como ser um personagem diante de pessoas que esperam tanto de você; nasceram Love is Blindness e So Cruel, odes a um relacionamento recém terminado de alguém procurando o seu caminho, como The Edge estava naquele momento; Mysterious Ways ou Zoo Station, questionando escolhas e caminhos a serem seguidos, e One a música que selou essa fase da carreira da banda. Somos um mas não somos os mesmos, era o momento de ver a banda, de ver a música como não um organismo só, mas forças colidindo como partículas de um átomo para gerar energia.

Mais uma vez a capa do álbum e posteriormente o grande circo eletrônico da Zoo TV serviram para transpor o momento que a banda estava. O U2 havia traçado uma base dos anos 80 e mudava a música – e a história das turnês -  a partir dos anos 90.

A riqueza sonora de Achtung Baby constantemente é lembrada e celebrada por críticos e herdeiros musicais do U2, Matt Bellamy vocalista do Muse por exemplo cita o disco como uma das influências para o bem-sucedido The 2nd Law lançado pela banda em 2012, certamente é o trabalho mais experimental da banda que até o momento mesmo com alguns flertes com novos sons como em Pop ou No Line on The Horizon ainda não conseguiu se aproximar de nada parecido, porém certamente não seria possível ao U2 tal experimentação, risco e vivência se não tivessem lançado The Joshua Tree 4 anos antes. Foi ele quem conseguiu permitir a banda não somente ter nome e recursos para ir tão longe, mas também a viver tudo o que culminaria no seu próximo trabalho. Como os trabalhos anteriores compuseram a paisagem árida de The Joshua Tree, as sua raízes sendo arrancadas fizeram a sonoridade de Achtung Baby.

E para você qual dos dois é o melhor? Ou seria possível escolher algum?

Perdeu algum capítulo do nosso especial? Não deixe de conferir a série que preparamos especialmente para você, clique aqui.

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