1987/1989 – Outside it’s America

Páginas 188 a 213

Adam: Alguns membros dos Hothouse Flowers e outros amigos estavam todos reunidos em um pub nas montanhas de Dublin. Nos dias em que o tempo estava bom, as pessoas costumavam sair dos carros e ficavam apreciando a vista sobre Dublin. Estávamos todos sentados fora, bebendo uma cerveja. Acredito que alguém estava fumando maconha, como era comum naquela época, em praticamente todos os parques de estacionamento de todos os pubs do país. Apareceram dois caras que se identificaram como agentes de narcóticos à paisana. Nenhum de nós os levou a sério. Não sei qual é o aspecto dos agentes de narcótico, mas pensava que esses não passavam de dois policias que estavam de folga e que encontraram uma boa oportunidade de deter uma celebridade.

Começaram a nos revistar e não descobriram nada, mas depois entraram no meu carro e encontraram um pouco de haxixe. Fui detido e levado para a polícia local e acusado de posse e intenção de venda de droga. Não foi nada agradável. Foi uma estupidez ter me envolvido em uma situação daquelas, uma vez que eu sabia que o haxixe era uma substância ilegal, mas penso que havia problemas mais sérios em Dublin, em termos de cultura de droga, do que eu estar fumando maconha. A idéia de sugerir que eu estava vendendo drogas é completamente absurda. Não passou de um pequeno delito, que algumas pessoas tentaram fazer passar por algo muito mais sério, para seu próprio benefício. Entre os membros do U2 havia um certo receio de que aquilo me impedisse de sair do país para os shows. Quando fui a julgamento, o juiz decretou pena suspensa, o que significa que eu tinha que pagar a fiança em vez de ser condenado. De modo arbitrário, aplicou uma fiança de 25 mil libras (cerca de 36 mil euros). Se a intenção era fazer de mim um exemplo, não sei se aquela foi a maneira certa, uma vez que a mensagem foi apenas confusa. Pelo menos para mim. Duvido que um traficante de heroína fosse obrigado a pagar uma fiança tão alta. Isso fez com que a situação ficasse mais grave do que era na realidade. Lamento por ter sido ingênuo a ponto de me pegarem infringindo a lei, mas o dinheiro foi entregue ao Centro de Acolhimento do ‘Women’s Aid de Dublin.

Edge: “Guitarrista de uma banda de rock’n’roll encontrado com uma pequena quantidade de haxixe” nunca foi um titulo de jornal que chocasse o mundo. Assim, lá fomos nós para a turnê, com o B.B. King e a sua sessão de metais. Ia ser diferente. Achamos que poderia ser uma forma triunfante de inserir os metais nos nossos shows. Era essa a identidade musical da turnê.

Gostei de algumas coisas que fizemos na turnê, mas aquilo parecia mais uma excursão a um beco sem saída. Há certas coisas que temos feito ao longo dos anos que tem um forte componente de blues, mas, em regra, costumávamos chegar ao blues através de um caminho muito diferente do que alguém como o B.B. King. Foi um desafio tocar naquele idioma e torná-lo interessante. Para ser sincero, não sei se atingimos o objetivo.

Larry: O B.B. King é uma lenda, e é para mim um orgulho ter tocado com ele. Divertimos-nos muito nessa turnê, mas misturaram-se as críticas do filme e do álbum, que foram basicamente: “Banda U2 vai para América, descobre o Blues e nos conta tudo sobre eles, como se nós já não soubéssemos.” Embora a audiência aplaudisse, dava para sentir que as pessoas estavam confusas. Foi uma mudança esperada. Todos sabiam disso.

Bono: Esse foi o final de uma viagem para a qual Bob Dylan nos tinha enviado. Em 1985, antes do seu show no Castelo de Slane, ele me disse: “Vocês tem que olhar para trás. Precisam recuar no tempo. Precisam entender as origens”. Quisemos ligar toda a terra à eletricidade que nos percorria, e compreender melhor o passado. E isso nos ajudou mesmo. Ouvir a música negra nos ajudou a entrar na onda de Achtung Baby. Ouvir a música popular me ajudou a crescer como poeta lírico. Mas esse era um trabalho gradual. Embora confuso e incomodo, penso que foi necessário para o nosso desenvolvimento.

Edge: Fomos para a Austrália e para a Nova Zelândia, depois voltamos e fizemos alguns shows na Europa e terminamos em Dublin no final da década de 80, em 31 de dezembro de 1989, fazendo show no Point Depot. Naquela altura estávamos completamente exaustos. Não era só desgaste da turnê, era a turnê misturada com o filme, mais a outra turnê e o fato de andarmos correndo de um lado para o outro há muito tempo. O Bono não tinha nos contado nada antes de começar a verbalizar uma espécie de confissão, tipo um discurso, no final de ‘Love Rescue Me’, em que disse ao público que aquela era uma festa de despedida. Ele estava muito cansado e emocionado. Parecia que tínhamos chegado ao fim de uma era, mas o sentimento era geral – já estávamos sem forças.

Bono: Véspera de ano novo, em nossa cidade natal, que mais poderíamos querer? Somos a maior banda do mundo, e essas são as pessoas que tornaram isso possível. Entramos em palco e parece que vamos entrar em órbita, mas nunca conseguimos sair da terra. O peso da expectativa nos prende. A magia tinha desaparecido, já não conseguíamos ver as estrelas. O espaço exterior, a via Láctea e todas as idéias bombásticas que nos tornavam especiais, pareciam não estar presentes naquela noite. Havia apenas as paredes e o teto, que cercavam a nós e ao publico. Eu percebi que, ou acabávamos ali ou voltávamos ao princípio e reconstruíamos o sonho.

*Páginas 188, 191, 193, 194, 195, 198, 200, 201, 202, 205, 206, 208, 209, 210 e 212 - Fotos

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