U2 divulga carta em protesto à Aung San Suu Kyi
U2 divulga carta em protesto à Aung San Suu Kyi
15 de novembro de 2017
U2 divulga carta em protesto à Aung San Suu Kyi
Vicky
Editora do U2 Brasil

"Isso, nós nunca imaginávamos."

A primeira vez que nós fizemos parte da campanha de libertação de Aung San Suu Kyi foi há cerca de duas décadas.

Nós participamos como apoiadores de longa data da Anistia Internacional e, também como muitos outros, porque estávamos horrorizados com a brutalidade dos militares e a sua repressão aos princípios básicos de liberdade.

A audiência do U2 é conhecida por sua visão forte a sua impaciência com a injustiça, mas essa questão pareceu fora do alcance apenas do envolvimento dos fãs. Nós fizemos o que pudemos em cima do palco para aumentar a conscientização, então muito de vocês embarcaram nessa campanha e a levaram para onde quer que fossem.... Para as suas faculdades, para as suas casas, para os seus amigos, para os seus governos.

Quando Aung San Suu Kyi foi libertada, nós erguemos nossos punhos.

Quando ela veio a Dublin agradecer a Irlanda e Anistia Internacional, nós irlandeses não poderíamos ter ficado mais orgulhosos.

Quando o seu partido, o NLD, numa avassaladora eleição se sagrou vencedor e ela pode de fato se tornar a líder real do seu país, uma jornada impossível parecia estar alcançado ao seu destino. Nós gostaríamos de poder respirar em sinal de alívio, mas tivemos que segurar nossa respiração. Ela construiu a sua reputação baseada na sua recusa em se comprometer às suas crenças (bem como no sacrifício pessoal que isso implicava), mas formar um governo requer uma certa dose de pragmatismo. Nós tememos que a brutalidade militar pudesse novamente em breve se mostrar caso ela ultrapassasse a barreira, e enquanto esperançosos pelos avanços, ainda nos perguntávamos se acabaríamos por nos encontrar mais uma vez realizando campanha para a sua libertação.

Mas o que aconteceu neste ano, e especialmente nestes últimos meses – isso, nós nunca imaginávamos.

Quem poderia prever que mais de 600.000 pessoas estariam fugindo de um exército brutal por medo de suas vidas, e a mulher que muitos de nós acreditávamos ter a voz mais clara e mais alta desta crise poderia ficar calada. Que essas atrocidades contra o povo Rohingya estejam acontecendo bem embaixo das suas vistas, destroem as nossas mentes e partem os nossos corações.

Em nome do nosso público que batalhou tão forte por ela, nós tentamos por diversas vezes falar diretamente com Aung San Suu Kyi sobre a crise em seu país e sobre as atrocidades dirigidas contra o povo Rohingya. Nós esperávamos falar com ela essa semana, mas ao que tudo indica essa ligação não vai acontecer.

Nós então vamos dizer a vocês agora o que gostaríamos de dizer a ela: a violência e o terror que estão acometendo o povo Rohingya são atrocidades terríveis e devem parar. O silêncio de Aung San Suu Kyi está começando a parecer muito como o consentimento. Como Martin Luther King disse: "A tragédia final não é a opressão e a crueldade das pessoas más, mas o silêncio sobre isso pelas pessoas boas". O tempo está passando por ela e ela precisa falar.

Nós sabemos que Aung San Suu Kyi tem em sua frente fatos complexos que o mundo exterior não consegue entender – que talvez nem devemos fazê-lo. A complexidade da situação em Mianmar que ela herdou do seu pai, não influenciou para comprometer seus ideais em 1998, e nem deveria agora. Em algum momento, um ato com o equilíbrio frágil acaba por se tornar um pacto faustiano.

Acreditamos também que não podemos direcionar a nossa raiva exclusivamente em sua direção. Isso também está nas mãos de todos aqueles que propagam a violência. Min Aung Hlaing não é um nome amplamente reconhecido fora de Mianmar -, mas deveria ser. Ele é o Comandante Geral encarregado dos Serviços de Defesa que não responde a ninguém quando uma ameaça é declarada. Embora isso não desculpe o seu silêncio, Aung San Suu Kyi não tem controle constitucional ou efetivo sobre as suas ações, e foi ele quem autorizou o terrorismo sobre os Rohingya, sobre o pretexto de proteger Mianmar. Condená-la e ignorá-lo é um erro. Se este horror dos abusos dos direitos humanos parar, e se as condições a longo prazo para o reassentamento das pessoas Rohingya estiverem ocorrendo, o General Min Aung Hlaing e seus militares devem ter o mesmo foco da ação internacional e da pressão como Aung San Suu Kyi e o seu governo civil.

A banda gostaria de agradecer a todos vocês que participaram e tomaram parte por Aung San Suu Kyi e Mianmar no passado. Realizamos a campanha de sua libertação de boa fé. Se você deseja fazer campanha novamente pela paz e a democracia em Mianmar e tomar medidas para apoiar os Rohingyas, apoie a ação da Anistia Internacional AQUI.

Por Bono, The Edge, Adam e Larry

Nota do U2BR: A canção "Walk On" foi escrita em homenagem à Aung San Suu Kyi.

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