Especial Songs Of: A jornada entre a inocência e a experiência
Especial Songs Of: A jornada entre a inocência e a experiência
27 de novembro de 2017
Especial Songs Of: A jornada entre a inocência e a experiência
Vicky
Editora do U2 Brasil

De todos os trabalhos de Blake, definitivamente o mais conhecido são as Canções de Inocência e de Experiência (Songs of Innocence and Experience). O primeiro volume, publicado em 1789, trazia nas suas primeiras cópias desenhos feitos pelo próprio autor como ilustrações para os textos. Cinco anos depois, a obra foi complementada por um outro volume recebendo o nome de Songs of Innocence and of Experience Showing the Two Contrary States of the Human Soul (Canções de Inocência e de Experiência Revelando os Dois Estados Contrários da Alma Humana).

Songs of Innocence, as canções da inocência, são compostas por  19 poemas. A Inocência de Blake, assim como a Experiência, são modos de percepção em relação a consciência humana. A infância é uma época com o estado da inocência, mas não imaculada, apenas protegida, não sendo imune ou isolada do mundo em sua volta. Os medos, anseios e a transformação pelo qual passamos por toda a infância estão descritos ali. E as mudanças que atingem a inocência, fazem com que o mundo seja feito através da experiência, que se junta no segundo volume, com os estados contrários entre os dois livros. Se na Inocência existe O Cordeiro, na Experiência passam a existir The Fly (A Mosca) e The Tiger (O Tigre).

Em 2014, quando a banda lançou Songs of Innocence, Bono logo anunciou que o álbum seria sucedido por Songs of Experience, numa clara e assumida referência aos trabalhos de William Blake. Agora após 4 anos de espera, o segundo volume da obra do U2 está prestes a ser lançado, no dia 01 de dezembro, porém podemos verificar que a relação entre os irlandeses e o poeta inglês é muito mais profunda e muito mais antiga do que isso.

Enquanto todos aguardavam o atrasado, prorrogado e prometido novo trabalho, fomos surpreendidos pelo anúncio no início deste ano da turnê comemorativa aos 30 anos daquele que foi o disco que tornou o U2 a maior banda do planeta, e definiu não apenas a música no final dos anos 80 e início dos 90, mas o modo como o rock e as turnês se desenharam desde então: The Joshua Tree. Apesar de toda a comoção causada e do sucesso absoluto - claro além do sonho realizado por muitos (incluindo nós no Brasil) de ver tal obra-prima tocada ao vivo e na íntegra -, na cabeça de muitos fãs essa peça não se encaixava, pois não havia sido prevista ou anunciada. Seria apenas mais uma estratégia de marketing para tirar alguns milhares de dólares dos seus seguidores? Seria um tapa-buracos porque o novo disco estaria mais uma vez muito fora do przo? Falta de criatividade? Qual seria a estrutura?

Na realidade a turnê de 30 anos de Joshua Tree fez todo o sentido, é a ponte perfeita e a essência da jornada entre a inocência e a experiência vivenciada pelo U2.

Há 10 anos, em 2007, quando o mesmo álbum fez 20 anos, a banda lançou edições especiais comemorativas; em meio ao material é claro que surgiram músicas  até então  desconhecidas ou pouco conhecidas pelos fãs do U2. B-sides, sobras de estúdios, músicas inacabadas, muitas delas viram a luz do dia e alcançaram aos ouvidos como nunca antes. Dentre elas está Beautiful Ghost / Introduction to Songs of Experience. Sim, em 1987, William Blake, a Inocência, a Experiência  e o U2 já tinham um promissor flerte. Gravada no estúdio STS, então localizado na região do Temple Bar na cidade natal da banda como uma demo, a letra é inteiramente retirada de Hear the Voice of the Bard, escrito por Blake como abertura para o seu Canções da Experiência. Com sons que beiram o fantasmagórico, como o próprio título da música alardeia, sentimos Bono sussurrar em tons perdidos os trechos de Blake. Sabendo que o vocalista bebe de muitas fontes e sempre foi um ávido leitor, encontrar os textos do inglês dentre as suas citações nunca chegou a parecer algo “estranho”.

Songs of Innocence foi descrito pela própria banda como sendo um disco sobre “primeiras vezes”. O primeiro amor, o modo como encontraram a sua voz, a saída da adolescência, as perdas. É um álbum cinematográfico até certo ponto para aqueles que conhecem bem a biografia do U2 e os pontos que marcaram a vida de seus integrantes. Bono nos pega pela mão e nos guia pela morte de sua mãe, pela rua onde cresceu e encontrou suas amizades, por como descobriu um meio de cantar apenas imitando em certo ponto seus ídolos, o encontro da sua primeira paixão, os conflitos com o qual conviveu sendo adolescente na dividida Irlanda, pela mesma Irlanda somos levados a lamentos sobre escândalos envolvendo a Igreja Católica para posteriormente sermos guiados pelo sol da Califórnia e o sonho dos garotos em alcançarem a sua terra prometida. É o fim da inocência, como nas primeiras obras de Blake.  E o absorver a realidade que cerca e ser moldado em busca do seu novo caminho. A natureza, a religião, a experimentação, o novo, o amor, os medos, são nuances pintadas em cada ponto.

E quando mais podemos definir o final da inocência do U2 do que com a gravação e a explosão de The Joshua Tree? Sendo assim, o surgimento de uma turnê em comemoração aos 30 anos dele veio  selar brilhantemente esse ponto cruzado pelos 4 meninos que se ali tornam-se homens e alcançam a terra prometida através do disco de 1987. A inocência foi perdida ali, quando em meio a uma saraivada de críticas positivas, prêmios e estádios lotados também vieram dedos apontados e agressões, foi perdida quando eles tiveram que pela primeira vez adentrar ao seu Éden não como promessas, mas como os tocadores das trombetas da verdade, foi quando eles se viram no mesmo patamar dos seus deuses, foi quando deixaram a suas casas por meses a fio. Revisitar todas essas emoções agora com o selo de maior banda de rock da atualidade faz todo o sentido para concluir a jornada até a experiência e encerrar esse ciclo no qual se encontram.

 

 

 

No próximo post: A experiência.

 

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