Eu brincava de ser uma estrela do rock and roll, mas realmente não sou. David Bowie é minha ideia de uma estrela do rock. Justamente agora, estou em Myanmar, apenas distante da reação pela morte de David, mas posso assegurá-los que o céu aqui é muito mais escuro sem o "Starman".

A primeira vez que o vi atuando foi no Top Of The Pops em 1972, cantando "Starman". Era tão vívido. Tão iluminado. Tão fluorescente. Tínhamos um dos primeiros televisores a cores na vizinhança, e David Bowie era a razão para ter um televisor a cor. Eu disse que foi nosso Elvis Presley. Há muitas semelhanças: a dualidade masculina-feminina, o desafio físico de estar no palco. Eles criaram as silhuetas originais, formas que agora são vistas como óbvias, mas que não existiam antes.

Ambos tinham a ver com outros mundos. Com Bowie, você tinha a sensação de que se estivesse ao seu lado, encontraria algumas portas para esses outros mundos. Na minha mente de adolescente, "Life On Mars?" era muito mais sobre se, existia vida na terra? Estamos realmente vivos? Isto é realmente tudo que há?

E algumas portas que Bowie abriu me levaram a outros artistas. Ele me abriu as portas para Bertolt Brecht e William Burroughs, e pela maneira, para Bruce Springsteen, com quem estive desde o princípio. E para mim, a porta mais importante que me abriu foi a que estava Brian Eno atrás.

Eu gostava de considerar-me amigo de David, mas hoje sou mais que um fã. Ele veio visitar-nos quando estávamos gravando o "Achtung Baby", e claro, ele nos apresentou a Berlim e ao Hansa Studios. Tivemos algumas conversas animadas, costumava entrar nas conversa, e inclusive ocasionalmente magoávamos os sentimentos. Ele levou sua filha a uma sessão de "Spider-Man: Turn Off The Dark", e enviou-me as razões pelas quais não havia gostado. E tudo o que ele disse foi realmente útil, porque foi em um dos primeiros dias do espetáculo.

Estive falando com Brian Eno sobre isso, porque David enviou-lhe uma nota de despedida, e ele compartilhou comigo. Foi tão incrível, tão divertido. É algo surreal e desafiante um tipo de carta de despedida, um dizer adeus. E eu estava dizendo a Brian que David tem estado em nossas mentes. No Natal, com minha filha Jordan estivemos escutando muito "Blackstar". David a conheceu quando tinha dois anos. Chamou-a de "Pixie", e tem sido uma fã de Bowie por toda a vida.

Gosto de Bowie quando ele se direcionava a ser um por star e Picasso, onde ele estava bem no centro. Essa época é a minha favorita, quando sua composição era disciplinada mas a gravação, não! Amo quando ele se direcionava igualmente na arte e no populismo. Blackstar é muito mais arte, levando isso em consideração eu não deveria gostar tanto desse álbum quanto gosto. E eu realmente amei esse álbum. Minha filha Jordan também amou.

Eu enviei uma foto minha e da Jordan fazendo um brinde a ele no seu aniversário esse ano. Escrevi um longo email e enviei também um lindo poema do Michael Leunig chamado "Amor e Medo" - um verso diz "Há apenas dois sentimentos amor e medo." Eu não obtive resposta, mas fiquei sabendo que ele recebeu o email.

No final das contas, como um compositor e artista, sua moeda são os pensamentos e sentimentos. Algumas pessoas tem pensamentos originais, mas o panorama musical não é tão único. O panorama musical do Bowie te afeta de uma maneira que é completamente diferente de todos os outros tipos de música. Você tem que fechar seus olhos, imaginar que você não fala inglês e apenar sentir a música e dizer: "Qual parte de mim está sendo tocada por essas notas?" ou "Quem mais consegue tocá-las?"

E no seu caso, a resposta é ninguém. Essa parte de mim é apenas tocada por David Bowie. Assim, essa parte de mim agora é um vazio, tenho que encontrar outras maneiras de despertá-la. Mas me despertou quando tinha 14 anos.