Reza a lenda que não importam os ingredientes, desde que você tenha o cozinheiro certo. Pode-se dar os ingredientes mais caros do mundo a um mal cozinheiro e receber uma gororoba para o almoço, ou de um chef com as coisas mais básicas do mundo e receber uma refeição dos deuses. Essa mesma analogia serve fielmente aos produtores musicais.
Ao longo das décadas, certos produtores acabaram por serem as linhas de assinatura de artistas, que ajudaram a criar a sonoridade e os seus discos e músicas. George Martin e os Beatles. Tony Visconti e David Bowie. Quincy Jones e Michael Jackson. Ricky Rubin e Red Hot Chili Peppers. Butch Vig e Nirvana. Lady Gaga e Max Martin. A lista é enorme e citando apenas alguns nomes realmente somos injustos. Porém, quando falamos de U2, apesar de dezenas de colaboradores, podemos afirmar sem medo que há a tríplice coroa responsável pelos seus grandes álbuns: Brian Eno, Daniel Lanois e Steve Lillywhite. E é justamente este último o entrevistado da vez.
Durante a pesquisa para escrever esta matéria, achamos muitos textos por toda a internet anunciando Steve como “produtor do U2”, mas diminui-lo a apenas isso é um erro incomensurável, já que por seus habilidosos mais de 40 anos de carreira já passaram nomes como: Rolling Stones, Jason Mraz, Talking Heads, The Killers, Dave Matthews Band, Coldplay, 30 Seconds To Mars, Morrissey e The Smiths. Sua contribuição ao mundo da música foi reconhecida inclusive pela Coroa Britânica, quando em 2012, se tornou "Commander of the Order of the British Empire (CBE)", condecorado pela Rainha. No total, o seu nome aparece creditado em mais de 500 diferentes trabalhos, o que o fez vencedor de 6 prêmios Grammy, incluindo o de "Produtor do Ano", categoria de música não-clássica, em 2006, pela sua contribuição em "How To Dismantle An Atomic Bomb".
Steve nasceu na cidade de Egham, na Inglaterra, em 1955, e entrou para o mundo da música em 1972 como operador na gravadora Polygram. Acabou por produzir uma fita demo para a banda Ultravox, que garantiu não apenas o contrato destes com a Island Records, mas também um emprego na equipe de produção da gravadora. E foi nela, nos anos 80, após já ter produzido nomes como Peter Gabriel que o U2 cruzou o seu caminho, sendo ele o responsável por assinar a estreia da banda com o famigerado "Boy". A parceria seguiu pelos dois outros trabalhos subsequentes da banda: "October" e aquele que colocou a banda realmente sobre os holofotes de atenção mundial: "War". Após um intervalo, já no final da década, voltou para "The Joshua Tree" em 1987. Já nos anos 90, Lillywhite esteve presente na equipe de produção de "Achtung Baby", juntamente com Brian Eno, Daniel Lanois e Flood. Nos anos 2000, Steve foi convidado pela Universal Music Group para o papel de diretor executivo, cargo que ocupou até 2005 quando migrou para a Columbia Records,onde se tornou vice-presidente sênior de A&R, cargo que deixou um ano depois. Também na mesma década, recebeu 5 dos seus 6 Grammys, todos relacionados a trabalhos executados em parceria com o U2: "Gravação do Ano" com "Beautiful Day" e "Walk On" (2001 e 2002); "Produtor do Ano", "Melhor Álbum de Rock" e "Álbum do Ano" por "How To Dismantle An Atomic Bomb". Em 2008, ele se juntou novamente a Daniel Lanois e Brian Eno para a produção de "No Line On The Horizon", que acabou de completar 10 anos. Além disso, esteve entre os diversos produtores presentes em "Songs Of Experience", além de ter sido responsável pela produção da trilha do musical "Spiderman: Turn Off The Dark", composta por Bono e The Edge.
Mas Steve, como tantos outros, pode ser considerado sempre um dos membros da “tribo” formada pelo U2 durante sua carreira, servindo como consultor não apenas nos álbuns, mas nas turnês e todo o material lançado pelos irlandeses ao longo dos anos. E toda essa influência e história pode ser conferida agora, na entrevista exclusiva realizada com ele pela nossa equipe. Boa leitura!
Poucos sabem da importância fundamental de um produtor com uma banda. Até que ponto um produtor modifica o som de uma banda?
É muito diferente os artistas com quem você trabalha. Naquele tempo existiam mais bandas do que agora. E pensar em estúdio... eu digo, eles nunca estiveram em estúdios, então eles não tinham conhecimento sobre como gravar em estúdios. Meu trabalho como produtor era fazer senti-los confortáveis em compor e ajudá-los a ter um som. Para mim, naquele tempo, eu era mais opinativo sobre o que eu achava como U2 deveria soar, e eu acho que ao longo do tempo eles decidiram como eles deveriam soar. Mas no passado, eu tinha um pouco mais de poder em definir o som, porque eu tinha mais experiência. Então no primeiro álbum, eu os aloquei de maneira peculiar, não de uma maneira normal em alocar uma banda para fazer o álbum de estreia, mas eles queriam gravar num estúdio em Dublin e nenhum álbum clássico de rock havia sido gravado na Irlanda até então. Eu tenho muito orgulho de ter feito o primeiro álbum clássico de rock em Dublin, porque bandas como The Boomtown Rats e Thin Lizzy foram... e Taste, uma outra banda... foram todos para a Inglaterra para gravar os seus álbuns, mas U2 queria gravar o primeiro álbum em Dublin, então eu aloquei a banda muito diferente porque o estúdio não era tão bom para produzir rock.
Como você conheceu o U2? Como foi seu primeiro contato com eles e qual era a primeira impressão dos garotos?
Eu os conheci pela primeira vez em um show no oeste da Irlanda e fui apanhado no aeroporto por um homem chamado McGuinness. Meu pensamento foi que McGuinness era irlandês já que a Guinness (cerveja escura irlandesa) é uma bebida da Irlanda, e a Irlanda sendo um país, um tipo de lugar, eu pensei que ele iria me buscar de trator para o show, mas ele era um homem maravilhoso com um maravilhoso sotaque britânico, e na carona para o show, ele tentou me vender esta banda que ele estava trabalhando. Ele tocou algumas fitas demo, não de muito boa gravação. Porém, quando eu os vi ao vivo, eu absolutamente entendi a banda. Eu entendi a paixão deles, eu entendi a ambição deles, logo de começo, sabe? O que eles não tinham muito naquela época era personalidade, eles tinham 17 e 18 anos de idade, que estavam sentados lá, mas quando eles entravam no palco é quando eles se tornaram as pessoas que conhecemos. Mas no palco ainda eles eram uma espécie de conchas vazias esperando para serem preenchidas com personalidade. Não é algo legal de falar, mas quando você tem a idade que eles tinham, você não tem muito... você é tímido, no entanto quando eles subiam no palco com aquela música alto por trás, eles se tornavam homens, mas fora dos palcos eles eram definitivamente meninos.
“Boy” realmente pode ser considerado um dos melhores álbuns de estreia de uma banda? Quanto da autenticidade da banda é possível escutar ali sem a interferência sua como produtor?
"Boy" foi e é um dos maiores álbuns de estreia de todos os tempos. E eu me sinto muito honrado. Eu estava liderando a banda durante o processo, porque eles tinham as músicas deles, mas eles não tinham muita certeza de como eles queriam soar. E eu suponho que eles poderiam soar um pouco mais pesado, mas nós realmente fizemos ter certeza de que o som fosse menos pesado, menos direto... mas sempre arte, sempre experimentando pequenas coisas diferentes... e sim... tenho muito orgulho daquele álbum.
Depois do “October”, você sugeriu à banda para que procurasse outro produtor, mas não foi o que aconteceu e, logo, Bono voltou a pedir o seu trabalho para o “War”. Dos três primeiros álbuns, este foi o qual você via a banda mais focada? Pode compartilhar conosco algumas lembranças das gravações?
Eu não queria trabalhar em "October". Eu achava que na época que era somente correto para... porque eu, como um produtor, poderia trabalhar com vários artistas, eu poderia fazer seis ou sete álbuns por ano, o que eu fazia naquela época, mas um produtor pode trabalhar somente com um produtor, então por que um produtor não deveria trabalhar com mais... por que os artistas não deveriam trabalhar com mais produtores? Então, eu sempre disse para eles desde o primeiro álbum “pessoal, vão experimentar, talvez no final eu volte a trabalhar com vocês”, então foi no final do "Boy" que eles me queriam de volta e eu voltei para o "October", mas depois do "October" não ter tanto sucesso, eu disse de novo “agora é hora de vocês fazerem algo com alguém diferente”, e eles responderam “é, talvez você esteja certo”. Eles de fato tentaram trabalhar com produtores diferentes, para minha sorte nenhum deles tiveram colaborações positivas, e eu lembro deles me ligando “Steve, o que você vai fazer em setembro?”, e eu “nada”, e eles disseram “por que você não vem e produz nosso terceiro álbum? E eu respondi “eu adoraria”. E a boa notícia sobre a continuidade é que nós sempre tentamos fazer algo diferente. Eu acho que quando a banda caiu na estrada para promover o "October", eles se tornaram mais pesados, mais rock. Eles estavam sendo influenciados para quererem ser... para traduzir a força, eu digo não a força da guitarra, mas eu falo pela força das vozes. Eu lembro de Bono dizendo “Eu cantei a pelos pulmões no 'October', mas você nunca me disse se a voz estava ótima no álbum”. Quando começamos "War", nós realmente tentamos fazer... sabe? Eu lembro Bono falando ao Edge “Não soe como The Edge, soe como Mick Jones do The Clash”, o pobre do Edge dizia “o que eu devo fazer?”, mas nós realmente os forçamos no álbum "War", e por sorte conseguimos ter ótimos hits e... sim... é um grande álbum.
Você poderia nos contar um pouco mais sobre como funciona o processo criativo da banda durante as gravações de um álbum novo? Quem da banda toma a frente na criatividade sonora? As músicas do U2 começam com os riffs do Edge? Ou elas começam com o "bonolês" (Bono cantarolando)?
Uau, você me perguntou uma questão sobre o processo criativo em um álbum, e é tudo diferente, porque eu quero dizer, eu conheço a banda por quase 40 anos, então eles foram de meninos para... digo, de jovens para homens de meia idade, e agora indiscutivelmente estão entrando no crepúsculo da vida deles... "Twilight" é uma ótima música. Eles fizeram álbuns de muitas maneiras diferentes. Em um álbum eles iam para o estúdio e faziam jam de 15 minutos, faziam jam de qualquer coisa, e escolhiam pequenas sessões, e eles nunca fizeram isso de novo em outros álbuns. Eu acho que... eu não consigo lembrar em qual álbum foi, oh meu deus. Mas, sim, todo álbum começa e termina... eu digo, eles todos terminaram da mesma maneira, completamente louco, mas eles todos começavam diferente, sabe? O processo criativo? Ah sim, Edge escreveu "Sunday Bloody Sunday", Edge escreveu "Pride", mas Bono escreveu várias também, escreveu várias melodias e letras, porém todos eles têm que concordar, e isso é a grande coisa! Eles realmente são uma democracia, sabe? Todos da banda têm que concordar em tudo, o que leva um bom tempo, porque eles têm um padrão muito alto.
Em uma entrevista, você disse que encontrou um desafio maior em “How To Dismantle An Atomic Bomb”. O quão desafiador foram essas gravações?
Bom, "Atomic Bomb" [How To Dismantle An Atomic Bomb] estava tão abaixo, eles estavam bem abaixo quando eu entrei para produzir o álbum. Eles estavam trabalhando por 18 meses e não estavam gostando do que estavam fazendo, e eles sentiram que eles não estavam nem perto de terem um álbum. E eles estavam bem depressivos, havia muita energia negativa, eles nem lembram disso agora, mas tinham que deixar um produtor ir embora. Eles chegaram a um ponto que não conseguiam deixar os produtores irem, eles adicionavam mais produtores na mixagem, e havia muita baixa energia. O velho bom alegre Steve entrou no estúdio, e eu acho que talvez melhorou o espírito um pouco, e acabamos fazendo "Vertigo", tem boas músicas naquele álbum. Quando terminamos "Vertigo", pensamos “meu deus, finalmente”. Nós tínhamos um hit, então vamos terminar o álbum e então... bom, acabou sendo o álbum do ano, eu ganhei um Grammy como melhor produtor... muito feliz.
Este ano “No Line On The Horizon” celebra 10 anos, álbum que não obteve o sucesso comercial esperado e divergiu as opiniões dos fãs. Larry revelou em uma entrevista que as músicas são inacabadas, apesar de existirem algumas boas. The Edge disse que havia muita pouca alegria no final das gravações. Para você, o que houve de errado? Você acha que a banda poderia ter trabalhado mais nele?
Eu lembro de "No Line On The Horizon" também tendo quase um momento infeliz no final. A coisa sobre "Atomic Bomb" é que no final foi bom, sabe? Nós fomos diretos, porque havia um novo time de “jogadores”, eu levei meu próprio time, eu era como um treinador de futebol mudando minha própria equipe, e não como um treinador muda, mas como a equipe por trás de tudo muda. Mas em "No Line On The Horizon" eu fui trazido adicionalmente também para a mixagem, e eu lembro toda semana que ninguém estava interessado em ouvir as músicas, e então algo me fez pensar que ainda não estava pronto e que estava sem foco. Ninguém realmente ouvia as músicas, era como se eles estivessem infelizes ao escutar as próprias músicas, e até Edge, que às vezes, sabe... ele é o que mais ouve, sempre trabalha nas músicas, eu acho que até mesmo ele decidiu que não conseguia ver a floresta pelas árvores, talvez ele não conseguia... eu nunca vou dizer para ninguém "desista", mas seria mais valioso uns três meses de pausa e depois voltar para as músicas, e percebesse que algumas eram longas demais, algumas não era boas o suficiente, algumas precisam ser regravadas, sabe? Só três meses de pausa e então voltaríamos com um ar fresco... sabe? Porque quando você olha para algo para trás é mais fácil saber que você cometeu erro quando você estava bem no meio de algo. Eu não sei, tinha pressão para continuar, ir para turnê, e todas estas coisas. De qualquer maneira, isso não é parte do meu trabalho com eles. Não pareceu, em nenhum momento do álbum, que estávamos fazendo um bom caminho.
Como foi regravar “Red Hill Mining Town” 30 anos depois do lançamento do “The Joshua Tree”? A banda considerava-na inacabada? Conte-nos qual foi a sensação de ouvir o álbum inteiro ao vivo três décadas depois.
"Red Hill Mining Town" foi uma experiência absolutamente incrível para mim. Eu agora estou vivendo na Indonésia, em Jacarta (capital), e quando eles me enviaram os arquivos, porque eu trabalhei na versão original na época, então colocando a fita... digo, abrindo os arquivos agora e escutando a banda conversando entre os takes e ouvindo as próprias músicas foi uma memória inesquecível, e Bono dizendo que queria regravar as vozes dos versos, quer dizer, foi muito incrível. Foi fantástico, de verdade. E todas estas pessoas adoráveis trabalhando na minha casa na Indonésia de repente ouve U2 pela primeira vez, e eles todos ficam loucos, eles amam essa música, e eu acho que ela poderia ser um grande hit na Indonésia (risos).
Falando sobre a Joshua Tree Tour 2017, você está sendo o responsável pela mixagem do som do filme-concerto da turnê, correto? Anton Corbijn comentou em uma entrevista que ele pode ser lançado nos cinemas. Você pode nos revelar algo sobre ou alguma previsão de lançamento? Haverá imagens gravadas nos shows do Brasil?
Eu estou trabalhando nos shows ao vivo do "The Joshua Tree", eu não sei se há algo que eu possa dizer sobre isso, porque a banda... você sabe, depende deles em fazer... eu nunca estou autorizado em comentar coisas antes que elas terminem. Uma vez que termine, elas são lançadas, obviamente depois da banda dar a benção deles, então não... sim, eu estou feliz em trabalhar nos shows da "The Joshua Tree", mas é tudo o que eu estou autorizado a falar agora, porém tenho que dizer que está muito bom.
Como funciona o seu papel ao vivo? O U2 é conhecido por seus grandes shows ao vivo - quais são seus conselhos e desafios?
Em shows ao vivo eu sempre... sabe? Por muitos anos eu ficava um pouco depressivo quando eu ia assistir as músicas ao vivo... no estúdio, sabe, é muito difícil de fazê-las ficarem boas, então eles tocam ao vivo e as deixam muito melhores, e eu falo “merda” ou “eu quero gravar esta música de novo porque estão fazendo tão bem agora” porque eles tiveram tempo de ensaiá-las, então alguns anos atrás eu disse “rapazes, por que vocês não gravam as músicas ao vivo primeiro? E então gravamos para valer depois, porque vocês saberão como elas serão”. E eles realmente fizeram isso. Uma música chamada “Glastonbury”, eles tocaram ao vivo por algumas vezes, mas não funcionou. Eu acho que naquele ponto eles se tornaram uma banda maior, e autoconsciente de como tocar as músicas ao vivo para soá-las melhor. Eles tinham que ter uma gravação dela, e então eles copiariam a gravação e fariam melhor, e eu acho que agora funciona assim para eles. Foi minha ideia para eles tocarem as músicas ao vivo para ter uma ideia de como elas soariam, mas isso realmente nunca funcionou.
Você foi chamado pela banda para trabalhar em “Songs Of Experience” há apenas alguns meses antes de seu lançamento. Qual foi o seu papel? A banda e especialmente Bono comentaram sobre como os eventos políticos e o seu "encontro com a morte" mudaram a direção do álbum. O quão diferente eram as canções trabalhadas quando você ouviu pela primeira vez e as versões finais?
Eu trabalhei em "Songs Of Experience", e foi meu papel do mesmo jeito que... eu tive três funções com a banda. A primeira como um “produtor de alma”, o que aconteceu em "Boy", "October" e "War". A outra quando eu assumia a produção, como em "How To Dismantle An Atomic Bomb". E minha terceira função foi o que eu fiz em "The Joshua Tree", "Achtung Baby", "All That You Can’t Leave Behind", "No Line On The Horizon" e "Songs Of Experience", que foi como entrar como músico extra no time, ajudá-los a finalizar as músicas. Em alguns casos, isso funcionou bem... em "The Joshua Tree", especialmente eu fiquei muito feliz. "All That You Can’t Leave Behind" foi ótimo também, nos trabalhos de "Beautiful Day" e "Walk On". Não funcionou muito bem em "No Line On The Horizon", e "Songs Of Experience" eu fiquei muito orgulhoso de "You’re The Best Thing About Me". Eu suponho que não seja uma música tão séria do U2, e talvez as pessoas queiram que as músicas do U2 sejam um pouco mais misteriosas e sérias, como antigamente. Porém foi ótimo. Tem muito amor naquele álbum, sabe? Nós nos conhecemos bem mais do que metade de nossas vidas e tivemos muitas experiências juntos, e muito amor um pelo outro.
Nos últimos anos, Bono tem pautado seu discurso em se manterem relevantes. A banda se tornou uma das maiores bandas de todos os tempos, e para isso ocorrer tiveram mudanças de comportamento e de sonoridade, ou seja, o quão diferente é o U2 para você dos anos 80 para hoje, até mesmo levando em conta esta instantaneidade do novo século, somado ao volume de bandas e cantores que vão surgindo a cada dia? A ausência de indicação do novo álbum para o Grammy, por exemplo, já é uma resposta do novo século ao U2?
Obviamente, a banda sempre quis mudar, em tudo. Você escuta "Boy", "War", "Joshua Tree", "Achtung Baby", "Pop", "When Love Comes To Town"… enfim, todas estas coisas, toda vez é diferente. Houve conversas... talvez ao invés de irem mais para os sons modernos, apenas fazerem sons que eles gostam, fazendo as músicas que eles gostam. E isso é como eles andam fazendo. Bono é muito ambicioso, ele olha nas paradas de sucesso e se pergunta “por que eu não estou aqui?”. Talvez essa seja uma das razões, porque as paradas de sucesso estão cheias de músicas que o U2... que não têm guitarras, que não têm uma banda tocando ali. Então neste caso, é um pouco diferente, eles estão ficando velhos, eu não sei. Eles sempre tentaram e sempre vão tentar, porque música... eles são irlandeses. A música está no sangue deles. E eles têm que fazer música.
Você acha que o U2 vai descansar por um tempo ou eles já estão pensando no próximo álbum? Muito se falou sobre a trilogia “Songs Of” terminar em “Songs Of Ascent”. Você acha que há um bom material deixado de lado que possa vir a entrar num futuro lançamento?
Como eu disse antes, não há muito o que posso falar do futuro porque depende deles sobre o que eles vão fazer. Eles têm ótimas músicas que não estão acabadas, eles não se ausentam por muito tempo, então quem sabe o que irá acontecer? Mas eu não sei, e não é meu trabalho especular.
Se o U2 te chamasse novamente para trabalhar com eles, você aceitaria?
Bom, se o U2 me ligasse da lua, eu reservaria alguma nave de Richard Branson (fundador da empresa de naves espaciais, Virgin Galactic) e eu iria até lá para trabalhar com eles. Eles são dos meus amigos mais próximos, embora não conversamos constantemente. Eles estiveram lá por mim nos tempos sombrios, e ainda há tempos sombrios, e eu estive lá por eles nos tempos sombrios da vida deles também, então eles me permitiram ter uma vida adorável e eu amo eles sinceramente, e tem sido uma ótima jornada, e que assim seja! Obrigado!
Você pode ouvir a entrevista na íntegra (em inglês) a seguir:
A equipe do U2BR gostaria de agradecer a gentileza de Steve por aceitar nosso convite e conceder um pouco do seu tempo para falar conosco. Nosso muito obrigado, Steve!