Bad/Heroes: Podemos ser reis e rainhas, ao menos por uma noite, em um show de rock
Bad/Heroes: Podemos ser reis e rainhas, ao menos por uma noite, em um show de rock
18 de agosto de 2017
Bad/Heroes: Podemos ser reis e rainhas, ao menos por uma noite, em um show de rock
Victor Ruyz
Colunista do U2 Brasil

If you twist and turn away
If you tear yourself in two again
If I could, yes I would
If I could, I would
Let it go
Surrender
Dislocate

A turnê em comemoração aos 30 anos do lançamento do álbum The Joshua Tree trouxe inovações para um setlist que, aparentemente, seria “previsível”. Não foram tocadas músicas raras, tampouco inéditas (por enquanto) – com exceção da bela “The Little Things That Give You Away” – porém, com pequenos detalhes, o U2 consegue trazer ainda mais magnificência para seus shows. Na leg passada, com shows na América do Norte, uma das novidades mais atraentes foram os diversos snippets durante “Beautiful Day” (sem contar o próprio novo remix durante a bridge da canção). Agora, “Beautiful Day” continua remixada. Porém, a variedade de snippets não é igual ao que vimos anteriormente. Em vez disso, “Starman”, de David Bowie, apareceu 9 vezes.

Encantador, mas não surpreendente, tendo em vista que “Starman” já tinha sido snippet uma vez na leg passada (e também durante “Beautiful Day”).

O que se tornou algo realmente especial foi o trecho de “Heroes” cantado durante “Bad”.

O real motivo da banda ter escolhido a música de Bowie como snippet nos shows, não temos como saber. Mas escolheram, disso sabemos, e podemos criar uma interpretação sobre isso:

I, I will be king
And you, you will be queen
Though nothing will drive them away
We can be Heroes, just for one day

Em um show de rock não há divergências. Não há preocupações. Cada um ali presente carrega consigo um universo particular, repleto de júbilos, frustrações, conquistas e vícios. A letra de “Bad” fala justamente sobre isso - “esta é uma canção escrita para um amigo meu que, em seu aniversário de 21 anos, recebeu uma quantidade de heroína que era suficiente para matá-lo”.

O amigo em questão é Andy Rowen. Bono, em 2014, deu mais detalhes. Citou o ataque terrorista ocorrido no centro de Dublin, no ano de 1974. No momento da explosão simultânea dos três carros bombas, Andy ficou preso na van do pai, enquanto este corria pelas ruas para socorrer as vítimas.

“A cena nunca o deixou. Ele foi até um dos mais eficazes ‘remédios’ para lidar com isso. Escrevemos sobre ele em nossa canção ‘Bad’. Andy diz que ‘Heroína é um bom remédio até que ela te mate. Ele sobreviveu. Um herói para mim.” - Bono

I, I can remember
Standing by the wall
And the guns shot above our heads
And we kissed, as though nothing could fall

Andy nunca se esqueceu do momento em que esteve trancado, dentro de um automóvel, enquanto as bombas explodiam sobre sua cabeça. O beijo ao qual recorreu para superar tal episódio foi o do vício. Há formas diferentes de se beijar. A literal e a figurativa. Um beijo, em si, pode representar mil coisas além do próprio beijo. Um beijo pode ser um pedido de socorro. Pode ser algo no qual se agarra para tentar sobreviver. Um beijo pode ser a cura; pode ser o vício. No caso de Andy, foi esta segunda opção por anos - não temos condições de afirmar quantos -, até se libertar. Desperto, em 2011, tendo deixado o vício para trás, ele beijou um show de rock.

“Vamos tocar essa música para uma cidade especial. Para um homem especial, que está aqui na sua cidade, e cresceu em Cedarwood Road. Escrevemos essa música para ele, e tocaremos para ele esta noite.”

Tornou-se herói. A libertação fê-lo rei.

Wide awake
I'm wide awake

Uma vez entregue à heroína, naquela noite estava entregue a um show de rock.

Ao menos por uma noite, em um show de rock, podemos deixar aquilo que nos puxa para baixo e tornarmo-nos reis e rainhas.

Não importam as diferenças pessoais. Não importam os demônios internos de cada um. A música tem o poder de libertar.

Ao menos por um dia. Ao menos por uma noite.

Proposital ou não, essa é a mensagem que o U2 passou durante a segunda parte da The Joshua Tree tour.

Por João Victor M. Ruyz

Foto de capa, por peterdervin.com

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