Especial Boy 40: O lançamento de “Boy”
Especial Boy 40: O lançamento de “Boy”
20 de outubro de 2020
Especial Boy 40: O lançamento de “Boy”
Depois de meses falando sobre o grande aniversariante do ano, chegamos finalmente ao dia de celebrarmos os 40 anos do primeiro disco do U2.
Vicky
Editora do U2 Brasil

Passamos os últimos meses falando sobre ele, descobrindo seus segredos, entendo o que o influenciou, como os meninos recém-saídos de uma escola de Dublin traçaram seus primeiros passos para ser hoje uma das maiores bandas do planeta, mas finalmente, dia 20 de outubro chegou a hora de celebrarmos o lançamento de 40 anos do álbum de estreia do U2: Boy.

1980 começou como um ano que parecia já destinado a selar de vez o destino da banda. Eles haviam ganho o seu primeiro concurso e lançado seu primeiro EP dois anos antes, tinha um público entusiasmado por onde passavam, colecionavam uma boa quantidade de aparições na mídia, mas ainda não haviam assinado o seu tão sonhado contrato de gravação definitivo com um selo importante. Com 4 anos de banda, parecia que aqueles próximos meses seriam definitivos. Os meninos se tornariam homens, ou aquela seria apenas mais uma banda que teve os seus holofotes, surfou na onda do punk rock, tentou entrar nos anos 80, mas acabaria por ser apenas uma boa lembrança.

A banda tinha lançado em maio daquele ano mais um single, 11 O’Clock Tik Tok, produzido por Martin Hannet, que na época já via trabalhado com uma outra grande banda dos anos 80: Joy Division. Com a nova música a banda decidiu sair em uma ambiciosa turnê, que de maio a julho contaria com 27 shows (o post sobre essa empreitada da banda pode ser lido aqui), e essa megalomania adolescente acabou por ser  tacada de mestre da banda, no agora lendário show do National Stadium levou Nick Stewart até o encontro de Bono e companhia a convite de Paul McGuinness. Nick estava desde o ano anterior no time da Artists & Repertorie (a parte de dentro de uma gravadora responsável por encontrar novos talentos e supervisionar o seu desenvolvimento e crescimento artístico) da Island Record e tinha como tarefa principal buscar novos artistas para a gravadora irlandesa.

No livro U2 by U2, Bono recorda da sua primeira percepção daquele visitante:

O Capitão media quase 1,90m, tinha um queixo que mais parecia uma peça mal acabada e uma voz muito suave. Disseram-nos que tinha pertencido ao Exército Britânico e aos serviços secretos como agente à paisana na Irlanda do Norte durante os conflitos. Lembro-me de ter pensado: “O Capitão tentando se passar por irlandês? Não é possível”.

Na nossa entrevista especial feita com Nick, ele também nos falou sobre o que viu naquela noite:

Todos os convidados eram da área de negócios de discos britânicos e eu fui o único que apareceu na noite, e foi uma pena porque várias pessoas do mundo da música foram convidadas e eu fui o único que compareceu para ver a banda. O que aconteceu foi que a banda apareceu no palco para um público grande, e havia um grau de ingenuidade porque a maioria dos shows que fui para ver novas bandas tinham três pessoas e um cachorro, e geralmente o cachorro é quem mais se interessa. Então ver uma apresentação com um grande público local foi o plano ideal de Paul McGuinness, porque eles realmente tinham fãs, e eu gostei muito, estava impressionado com toda a performance ao vivo, e foi assim que tudo começou.

E foi naquela noite que a relação de décadas do U2 com a Island Record começou e foram abertas as portas para que Boy começasse a ser gravado.

As gravações para o disco ocorreram em setembro e outubro do mesmo ano, no Windmill Lane, em Dublin. A ideia original era de que Martin Hannett voltasse para trabalhar com a banda, mas isso acabou não acontecendo já que na época ele estava extremamente abalado devido ao suicídio de Ian Curtis, que acontecera apenas poucos meses antes. Há boatos também que a postura de Hannett durante as gravações anteriores não foram aprovadas pelos membros do U2, que disseram que o produtor se importava mais em imprimir sua própria assinatura na sonoridade das faixas, do que em respeitar a identidade da banda.  Foi aí que Steve Lillywhite (temos uma entrevista com ele também que pode ser lida aqui) acabou sendo escolhido para produzir em seu lugar. Steve havia produzido o single de estreia da banda Siouxsie and the Banshees que era algo que rodava constantemente nos ouvidos dos meninos do U2.

Steve era como uma lufada de ar fresco, “relembrou Bono em uma entrevista ao Irish Independent em agosto deste ano. “Ele era como um apresentador de programa infantil: ‘Ok pessoal, peguem a sua caixa de cereais, peguem uma garrafa velha de suco de laranja e cortem a parte de cima. Se vocês juntarem, vocês terão um telefone!’ Ele tinha aquele lado da Grã-Bretanha: muito positivo e prático. Tudo bem, nós vamos arrumar um modo de fazer isso. Larry e Adam podem tocar juntos. Ok, certo, eu tenho algumas ideias!”

Paul Thomas foi escolhido para ser o engenheiro responsável pelas gravações.

As letras de Boy trazem toda a sensação de desencontro adolescente, misturado o medo e a vontade de crescer e conquistar o seu lugar no mundo (temos a excelente análise faixa a faixa feita pelo nosso companheiro Sud e postada aqui). A sombra de uma adolescência marcada pela morte da mãe está nas letras de Bono – e refletem também o que tinha acontecido com Larry – a vontade de conquistar espaço longe daqueles limites que estavam a sua pequena ilha. As letras são arrogantes e ingênuas ao mesmo tempo, mas desde ali já podemos ver algo que temos até hoje: a capacidade de Bono de transformar algo tão seu em universal. A gente se agarra a toda aquela atmosfera inocente, mas ao mesmo tempo destemido, daquele garoto que perdeu a mãe, ao mesmo tempo que precisa “matar” o seu pai para seguir em frente.

Outra coisa que já está presente ali, é a sonoridade da guitarra de Edge, que gravou todo o álbum usando a sua lendária guitarra Gibson Explorer. Ele já sabia brincar com diversos efeitos e usar a sua guitarra como a ambiência perfeita para as letras que saiam do seu parceiro.

Larry era até o momento o mais técnico dos quatro, com a formação musical e a sua experiência com as bandas marciais e vemos muito dessa influência na sua bateria, isso acabaria por estar muito presente especialmente até War, o terceiro disco da banda, e também foi relembrada nas turnês dos álbuns Songs of Innocence e Songs of Experience, quando Larry usa um tambor militar para anunciar o começo de Sunday Bloody Sunday.

E Adam com o seu baixo no tom certo, carregado de uma leveza e melodia que é o par perfeito para os outros dois instrumentos da banda.

A banda soa no estúdio muito próximo do que a fez chegar naquele momento: reproduzindo a energia que tinha ao vivo. A banda estava muito longe de estar próxima a um trabalho experimental, mas tinha a sua influência como Bono já deixou tantas vezes claros, no punk rock, e essa solidariedade mais para o cru, com menos pós-produção é o que dá o grande tom de todo o trabalho.

Para a capa, o irmão do melhor amigo de Bono, Guggi acabou por ser a representação perfeita para aquilo que o U2 tentava expressar em suas letras. Peter Rowen, que aparece não apenas na capa do disco de estreia da banda, mas também na do single de I Will Follow, na de War e também na primeira coletânea lançada pela banda: The Best of 1980-1990, além de já ter sido a imagem do EP da banda U2-3. A lendária foto foi feita por Hugo McGuinness e o conceito final da capa ficou a cargo de Steve Averill (também temos entrevista de Steve aqui). A imagem de Peter acabou também servindo de inspiração para outros trabalhos da banda como o clipe de Two Heart Beat as One.

Hoje Peter é fotografo profissional.

Nos Estados Unidos e em alguns outros distribuidores internacionais, o álbum teve que chegar com uma capa diferente, já que a imagem de um garoto sem camisa combinada com alguns assuntos tratados na letra, acabou sendo acusado de ser um incentivo a pedofilia. Sendo assim, em alguns lugares, a capa do disco de estreia do U2 conta com uma foto estilizada dos 4 integrantes da banda em preto e branco. O trabalho dessa capa alternativa foi feito pelo artista e fotógrafo Sandy Porter e o designer interno da gravadora, Bruno Tilley, com um orçamento apertado, novas imagens não foram produzidas, e as imagens utilizadas são banco de imagens de comunicados que eram enviados a imprensa.

A Day Without Me foi lançado como single antes da chegada dos discos as lojas em 18 de agosto de 1980. Depois já com o trabalho completo, em 24 de outubro foi a vez de I Will Follow em 24 de outubro, que acabou por alcançar a 20ª posição nas paradas.

A banda vendeu logo na saída quase 200.000 cópias do seu disco de abertura. Alcançou o número 63 na Billboard 200, tendo retornado as paradas em 1981, onde ficou dentre os 70 mais por um período de tempo significativo. No Reino Unido foi o número 52 e na sua terra natal, Irlanda, alcançou a 13ª posição, que não foi a mais alta, já que no Canadá eles ocuparam o posto 12 nas paradas.

Boy contou com uma turnê de divulgação que levou o U2 a tocar pela primeira vez em outro continente. Com 157 shows, a turnê passou pela América do Norte, França, Holanda e Bélgica (temos um texto sobre ela aqui).

Em 2003, o álbum entrou na lista da Rolling Stone como um dos 500 álbuns de todos os tempos, estando na posição 417. Em 2006 foi a vez da Uncut escolhê-lo como o 59º melhor disco de estreia de uma banda, com uma lista com 100 trabalhos.

Em 2008,  foi anunciado que os três primeiros discos da banda ganhariam versões remasterizadas especiais em três formatos: Standard (um único CD);  formato deluxe: além do CD padrão contava com um CD bônus, incluindo B-sides, músicas ao vivo e raridade e um livreto com 32 páginas com fotos inéditas, letras completasse encarte novo; foi lançado também em vinil de 180 gramas.

Agora para o Record Store Day, mais uma edição especial será lançada com vinil de alta gramatura branco.

Até a turnê de comemoração aos 30 anos de The Joshua Tree em 1987, Boy tinha sido o único disco da banda com todas as músicas já executadas ao vivo pela banda.

Esperamos que tenham gostado desse nosso especial que encerramos hoje, agora é a hora de ligar o som e celebrar com tudo o aniversariante do dia.

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