E continuamos com o nosso Especial Joshua Tree, em uma homenagem aos 30 anos de lançamento desse grandioso álbum. Na última semana, revisitamos alguns acontecimentos que influenciaram todo o processo de criação e idealização das músicas. Seguindo essa bela trajetória, embarcamos agora ao ano de 1986, quando, aos pés da montanha Wicklow, para nos depararmos com os primeiros acordes do que viriam a ser alguns dos maiores sucessos da banda foram gravados.
A decisão de voltar a trabalhar com os produtores de "The Unforgettable Fire", Daniel Lanois e Brian Eno, foi tomada com facilidade: a dupla já havia se conectado com a banda desde o trabalho anterior. Também a bordo da equipe estava Flood, engenheiro de som, inicialmente recomendado por Gavin Friday, que já havia trabalhado com os Virgin Prunes e impressionado o U2 após a parceria com Nick Cave.
Com o time de produtores já montado, restava agora decidir o local das gravações. A banda havia se surpreendido com Slane Castle, que foi utilizado para as gravações de "The Unforgettable Fire", e buscava um lugar igualmente inspirador.
Foi então que The Edge, que estava em busca de casas maiores para se mudar com a família, conheceu Danesmoate.
“Nós vimos uma propriedade maravilhosa nas montanhas. Decidimos que não era para nós, no entanto mais tarde tive a ideia de que deveríamos alugá-la para as gravações.” (Edge)
Danesmoate era uma enorme mansão construída no estilo georgiano, com um grande salão principal, que acabou proporcionando uma maravilhosa sonoridade ao álbum. Os arredores eram familiares a pelo menos a um dos membros da banda: a casa era próxima ao St Columba’s College, de onde Adam havia sido expulso. A título de curiosidade, ele ficou tão impressionado com o imóvel durante as sessões de gravação que posteriormente acabou comprando-o.
Para Lanois, Danesmoare era o estúdio perfeito. “O lugar era maravilhoso. Tinha uma grande sala de estar com o teto alto e pisos de madeira. Na minha opinião era a sala mais rock and roll entre todas. O castelo [Slane] era uma ideia incrível, mas Danesmoate conseguia soar ainda melhor”.
“Quando você escuta esse grande som da bateria no The Joshua Tree, é o som daquela sala.” (Adam)
A medida que as gravações progrediam, Lanois passou a perceber que cada um dos quatro membros do U2 vinha fazendo progressos incríveis em suas habilidades musicais, o que proporcionava um ambiente ainda mais produtivo. Da mesma forma, era notável a mudança em suas próprias personalidades.
“Eu estava lendo mais, então eu estava mais esperto com o que estava acontecendo no mundo. Eu descobri um amor por escritores e decidi começar a me sentir como se fosse um.” (Bono)
A essa altura, The Edge havia se mudado para Melbeach, uma enorme casa em South Dublin que acabou sendo usada em algumas sessões e também se tornou ícone das gravações de "The Joshua Tree". Foi lá que músicas como “Mothers of the Disappeared” e o que veio a ser “Bullet the Blue Sky” tomaram forma.
Lanois e o produtor Patrick McCarthy mixaram as músicas em Melbeach e, no final de Dezembro, o grupo incluiu novamente Steve Lillywhite, que havia produzido os três primeiros álbuns da banda, para remixar os singles em potencial.
Depois dos intensos e produtivos meses, "The Joshua Tree" estava finalmente pronto no início do ano de 1987, após a banda retornar ao estúdio para finalizar algumas músicas arquivadas ao final do ano anterior. Lanois fala sobre a exaustão entre a banda e a equipe de produção:
“Se me lembro corretamente, a única pessoa de pé ao final disso tudo era The Edge. Todo mundo estava doente, sobrecarregado (…) Edge era o único a se sentir bem porque é o ‘bibliotecário’ da banda; ele consegue realmente se manter no nível depois de algo assim.”
Foram meses difíceis, mas que deixaram suas marcas na banda como um todo, em cada um de seus membros individualmente e em todos nós que tivemos contato com o resultado desse maravilhoso trabalho. A história de "The Joshua Tree" é, indubitavelmente, uma enorme jornada. Uma jornada entre o deserto e uma enorme casa em Dublin, ao redescobrimento de si mesmo através da arte.
Continue acompanhando o Especial Joshua Tree nas próximas semanas, aqui no U2BR, e reviva todo o processo de criação desse que é considerado um dos melhores trabalhos da banda e um marco em sua história, assim como na do próprio Rock and Roll. Você pode também ler os textos anteriores clicando aqui e aqui.